As histórias de Lulu e Bolinha não possuem uma arte tão refinada (apesar de os desenhos serem bastante graciosos) e nem tramas rebuscadas, mas isso nunca importou: é tudo tão bem amarrado e divertido que é difícil não se deixar levar pelas brincadeiras, trapaças, esquemas, planos, confusões, mal entendidos e todo tipo de aventura cotidiana da turminha de crianças bagunceiras e os adultos neuróticos que as cercam. Conhecidos arcos narrativos são repetidos com frequência e com isso desenvolve-se um delicioso storytelling: histórias de bruxas (Alceia e Memeia) contadas por Luluzinha ao indisciplinado e reclamão Alvinho; Bolinha e seu primo menor Carlinhos; seu Miguel, o obsessivo e quase psicótico caça-gazeteiros; a turma da rua de baixo importunando os meninos do clube do Bolinha (Bola, Juca, Careca e Zeca); o detetive Aranha (Bolinha) versus o pai da Luluzinha (que, incrivelmente, sempre é o real culpado dos problemas); os extraterrestres que são amigos de Bola e só por ele são vistos; tentativas de Lulu e sua melhor amiga Aninha de entrarem no clube dos meninos; e muitas outras situações habituais ou especiais.
Após algumas décadas sumidos daqui (a não ser em republicações específicas e semiluxuosas de álbuns históricos), Luluzinha e Bolinha deram as caras novamente nas bancas há cerca de dois anos, pela editora Pixel. E estão fazendo grande sucesso, com direito a lançamento de especiais (dedicados ao amor do Bola, Glorinha, ao Aranha, às histórias da pobre menininha contra as bruxas...) e duas revistas mensais, que ainda abriram caminho para a republicação de mais títulos clássicos sumidos há eras das bancas do Brasil: os personagens da Harvey (Riquinho, Gasparzinho, Brasinha, Bolota, Brotoeja e afins), muito inferiores a Lulu e Bolinha mas com considerável demanda dos leitores saudosistas.
Mas Lulu e Bolinha não devem ser vistos nesse balaio; são quadrinhos realmente preciosos, muito engraçados ainda hoje, bem bolados, empolgantes. E ainda que haja desenhos animados bacanas (como os expostos abaixo) ou novidades como a em minha opinião pavorosa modernização estilo mangá "Lulu Teen" (que modifica todos os personagens e desvirtua todo o espírito da coisa, além de ser uma produção evidentemente medíocre e oportunista), os quadrinhos da menininha de cabelo encaracolado e boina e o menininho gordo com roupa de marinheiro permanecem a melhor pedida. E é emocionante perceber que, tempos e costumes mudando sempre, essa turminha continuará como sempre e isso não fará dela anacrônica, ultrapassada ou incompreensível, pelo contrário: crianças são sempre crianças.