Se o Brasil tem um defeito de que não se pode nunca escusá-lo, esse defeito é o de não preservar sua cultura. Inúmeros filmes, programas televisivos, discos e livros estão totalmente relegados ao ostracismo, às cópias perdidas, aos garimpos ocasionais em sebos. Com quadrinhos, a coisa não é diferente. À parte exceções cada vez mais raras, não cuidamos dos nossos artistas e personagens. Ao contrário de tantos clássicos americanos e europeus, em nosso país não temos praticamente nenhuma edição integral da obra de nenhum autor, por mais importante que seja. Não há organização, financiamento e interesse capazes de publicar as obras completas de Henfil, Laerte, Ziraldo. Isso para ficar nos nomes mais conhecidos! Quadrinhos no Brasil ainda são tratados com lamentável negligência.Uma pequena (mas substancial) mudança nesse quadro se dá com o lançamento do Almanaque Sacarrolha, compilando um pouco da história de um personagem histórico que está completando quarenta anos oficialmente em 2012. Sacarrolha é uma criação do "italiano carioca" Primaggio Mantovi, e fez muito sucesso nas bancas durante curtos mas marcantes anos. Vendia dezenas de milhares de exemplares todo mês, bem mais do que a maior parte dos álbuns e gibis que saem hoje por aqui. O relançamento do simpático Sacarrolha é talvez a publicação de mais importante resgate nacional no campo dos quadrinhos este ano.
Primaggio também é conhecido por seus livros sobre o faroeste cinematográfico e seu trabalho com a Disney. Mas seu nome deve estar cada vez mais associado a Sacarrolha, um trabalho tão pessoal e tão bonito, que finalmente parece estar tendo uma redescoberta à altura: este ano o troféu HQ Mix o homenageou sagrando-o como a efígie de sua estatueta, e o lançamento do luxuoso Almanaque Sacarrolha é um tributo mais do que devido. Esperamos que a volta da trupe do Gran Circo Kabum seja apenas uma de muitas ações feitas para preservar a memória do gibi nacional, e que quando ouçamos falar de "palhaçada" em algum assunto envolvendo quadrinhos brasileiros só nos venha à cabeça as divertidas confusões do Sacarrolha.Atualização (20/12/2012): Primaggio Mantovi gentilmente enviou-me este belíssimo cartão de boas festas estrelado pelo querido Sacarrolha:

7 comentários:
Legal...Filipinho!:D
Valeu, Xandro.
Boa tarde, Filipe! Gostei DEMAIS do modo, todo pessoal, que descreveu o meu trabalho no Sacarrolha.Você capturou a essência que, desde sempre, tento aplicar nos meus trabalhos, não importando o gênero. Mesmo nos livros sobre a sétima & nona artes, procuro manter essas características. Muito obrigado! Obs.: Você escreve muito bem... Razão mais que justa para considerá-lo "companheiro de profissão"! Abraço, Primaggio
Grande Primaggio!
Eu gostei MUITO do Sacarrolha, e o mínimo que eu poderia fazer era, tendo este espaço, externar minha empolgação! Só dá uma tristeza vendo aquele montão de capas e não possuindo revista alguma, hehe. Vou ver se caço algumas nos Mercados Livres da vida.
Adorei o humor do Sacarrolha, sua gentileza para com os amigos, seu amor pelas crianças, sua vontade de ajudar os outros e seus sacrifícios com a rotina do circo: pra ele, o mais importante é deixar os outros felizes, e não o cronograma de trabalho! Um personagem muito positivo, que me alegrou este final de semana e alegrará muitos mais, em futuras releituras. :)
E obrigado pelos elogios! Quando o material é bom, a inspiração vem a cavalo, rs!
Sobre o Almanaque da Kalaco: que bacana poder encontrar um álbum desse à venda!
Vi que o Pipoca e Nanquim tb fez uma boa divulgação!
Não tinha visto, Kleiton! Ficou bem legal mesmo. E acertaram na crítica: o preço foi muito salgado. E, claro, a matéria deveria ter sido creditada.
Mas compartilho da alegria pela volta do Sacarrolha, e torço muito para que essa edição faça sucesso!
Postar um comentário