quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Grandes animadores: Frank Tashlin

Nos anos 30 e 40, a maior concorrente da Disney no campo da animação provavelmente era a Warner Bros. Com personagens extremamente carismáticos — e criados especialmente para os cartoons, ao contrário das adaptações de Popeye, Krazy Kat etc., que no mais das vezes eram pálidas "amenizações" da genialidade dos quadrinhos —, a Warner conseguiu se impor não apenas pela força de sua produção mas também por estratégias comerciais bem sucedidas: como passavam curtas antes dos longas no cinema, não era difícil encher de coelhos, patos e porcos a cabeça de quem foi atrás dos filmes com James Cagney, Errol Flynn, Bette Davis; além disso, os desenhos muitas vezes satirizavam/homenageavam as produções dos estúdios, havendo por exemplo grande material paródico sobre Casablanca e os famosos gângsteres da Warner, como Humphrey Bogart, George Raft, Edward G. Robinson.

Diferentemente da busca de aperfeiçoamento naturalístico disneyano, tentando observar a natureza e extrair dela a matéria-prima de suas obras, a ordem na Warner era a anarquia: personagens se esticando, amassando, se machucando cruelmente e logo em seguida de pé e prontos para azucrinar seus rivais e oponentes, movimentos que desafiavam qualquer lei da física. Era uma saudável complementação: à gentileza de Mickey Mouse se contrapunha o cinismo "grouchiano" de Bugs Bunny (Pernalonga), aos surtos de humor de Donald Duck juntava-se a bizarra amoralidade de Daffy Duck (Patolino), face à ingenuidade de Pateta seu colega suíno Porky Pig (Gaguinho) demonstrava por vezes um gênio igualmente bondoso.

Por essa época, verdadeiras pedras basilares da animação estavam dirigindo e criando desenhos animados para a Warner: Chuck Jones, Friz Freleng, Tex Avery. Menos conhecido nesse campo, Frank Tashlin animou alguns curtas e dirigiu muitos outros, que estão ainda hoje entre as maiores pérolas do estúdio. Revê-los é um prazer e simultâneo aprendizado. Continuam engraçadíssimos e fascinantes.

A razão para Tashlin ser pouco lembrado nessa área nada tem a ver com sua competência. Ou melhor, tem: Tashlin acabou se tornando uma lenda em outro campo da arte cinematográfica: a comédia, pura e simplesmente. São dele os mais geniais filmes com Jerry Lewis não dirigidos por Jerry Lewis. Ele que deu a Jayne Mansfield seus grandes momentos, em The girl can't help it e Will success spoil Rocky Hunter?. Ele que dirigiu Bob Hope em sua comédia mais reverenciada, Son of Paleface. Os franceses o adoravam, o público aprovava seus filmes mesmo sem saber que era Frank Tashlin o maior responsável por tudo aquilo dar certo.


Mas poucos se lembram que Tashlin começou na animação. E foi ali que ele pegou o espírito que faria de suas obras mais famosas inquestionáveis "filmes de autor". Sua concepção visual veio dos desenhos animados, com a elasticidade de corpos, maior exploração do campo visual, perfeição na mise en scène (encenação), direção apurada com as possibilidades do enquadramento, da câmera, do corte. Um animador pensa em tudo isso, pois ele é quem constrói a imagem, frame a frame, vinte e quatro vezes por segundo.

É preciso redescobrir o Frank Tashlin animador, assim como a crítica francesa o descobriu verdadeiro cineasta nos anos 50. Como pequeno incentivo, alguns vídeos de seu trabalho para deixar perene a memória desse grande artista:



P.S.: Descobri há pouco tempo que Frank Tashlin possui outra faceta esquecida do grande público: escritor. É dele este livro, que parece ser relativamente conhecido em alguns círculos, e que dificilmente não deve ser muito bom. A procurar.

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