Seguindo na operação resgate, comentários escritos dia 24 de fevereiro:O homem que calculava - Malba Tahan
Outra pendência da minha infância: havia lido parte do livro e abandonado, não sei se por medo ou preguiça. Mas o caso dos 35 camelos nunca havia saído da minha cabeça (creio que parei ali ou pouco depois), e após ler certos elogios à obra acabei resgatando esse curioso romance (mesmo que em outra edição, pois a que eu tinha desapareceu) e comecei a lê-lo.
Ele tem certas falhas estruturais, diria: a começar pelo personagem narrador, que é uma figura totalmente unidimensional e que só serve de suporte ao protagonista-título, sendo bem forçadas suas reações a certos eventos e esquisita sua narração. E como entender o bizarríssimo final com a conversão do calculista? Um livro em que as personagens vivem inseridas em profunda religiosidade e a invocam para qualquer feito ou ação, como assim de repente toda a fé é renegada em prol de outro credo, encerrando a história com uma moral convencional bastante tendenciosa?
Mas isso tudo é o de menos. O romance é muito engenhoso e os enigmas, desafios, charadas e problemas são incríveis. Beremiz Samir é um personagem de presença fabulosa, dando ao leitor a serenidade de perceber que todas as soluções matemáticas são, afinal, fáceis, pois simples e lógicas. É um prazer acompanhar o "crescendo" de expectativa com as bizarras proposições a ele formuladas, e como imaginar a saída de várias delas? Está tudo diante de nossos olhos, mas Beremiz Samir é quem tem a calma e a tranquilidade de compreender essas regras, de expor o que é natural mas pouco observado. Ainda que suas faculdades pareçam inumanas às vezes, como quando diz quantas letras e palavras tem o Corão.
O exotismo do oriente árabe é um pano de fundo interessante, que Malba Tahan define em poucas mas detalhadas descrições, ambientando bem a intriga e criando um bom pano de fundo histórico, com personagens reais e os hábitos do cotidiano e do professar religioso e político daquela gente. Também nisso o relato é feliz. Agora a vontade é de procurar mais de Malba Tahan mexendo com isso.
P.S.: Acabei encontrando minha edição antiga (cuja capa é essa de fundo branco aí em cima).
P.S. 2: Acredito que o final convencional foi uma imposição do Estado Novo, pois o livro foi publicado em 1938.







