terça-feira, 25 de setembro de 2012

Brigitte Bardot

Nos últimos anos, escrevi pequenos comentários acerca da maior parte dos filmes e livros etc. que consumi. Quase tudo postei em redes sociais, que dispõem de uma memória muito curta; para esses textos não se perderem, penso em postá-los aqui, aos poucos. Para começar, minhas impressões sobre o primeiro volume das memórias de Briggite Bardot, impressões escritas dias 5 e 6 de outubro de 2011:  

Iniciais BB - Brigitte Bardot 

 Eu adoro a BB, de verdade. 

Mas há anos ela é muito impopular; nem tanto pelos filmes (mas ainda a subestimam como atriz), mas pelas suas controversas opiniões sobre imigrantes na França, homossexuais e todo o reacionarismo político de que ela é sempre acusada, além de seu alegado fanatismo na defesa da causa animal. 

Não que isso seja de todo mentira (ou de todo verdade), mas este livro de memórias é uma péssima propaganda. 

Para começar, ela não escreve bem. Paragrafação aleatória, uso excessivo de pontos de exclamação (!), enxurrada de advérbios e adjetivos — frases como "foi comovente, extraordinário, único e inesquecível" acabam cansando a leitura, criando uma certa confusão. 

Além disso, ela muitas vezes parece incoerente, quando reclama de algo que depois elogia, ou quando fala que os pais lhe deixaram marcas de um certo abandono afetivo, depois contrariando tudo com exemplos diversos. Quando não é pura e simplesmente hipócrita: reclama da frouxidão de valores e da sexualização dos costumes e a cada página parece ter um homem diferente debaixo dos lençóis; obcecada com animais, reclama de seu abandono e a todo instante vocifera contra a maternidade, confessa seu estranhamento com o filho, não fala dele com grande carinho e depois simplesmente deixa de falar nele, após confessar sem muito remorso seus vários abortos (chegando a desejar e tentar ter abortado seu único filho também) — o filho foi viver com a família do pai. 

Falando em páginas, é realmente difícil acompanhar quase SEISCENTAS páginas (com um livro grande de tamanho, ou seja, virtualmente umas mil páginas "reais"!) com tanta crítica, tanto negativismo, tanta intransigência, carência, raiva, tristeza. Com o pretexto de ser intensa, ela se revela simplesmente desagradável! Parece que reclama por qualquer coisa, zanga-se por nada, quer se matar por picuinhas e leva tudo de maneira extrema. Quando não parece simplesmente fútil, mimada, ridícula. 

O livro é bem desinteressante. Ela só comenta trivialidades, seus amigos próximos, suas desilusões amorosas, sua extrema e por vezes bizarra carência. Tem um estilo repetitivo, como nas inúmeras vezes que cita um acontecimento ou fato e declara: "desde essa época, eu...", "por isso, a partir de então eu nunca mais..."... 

Sobre cinema, a impressão é péssima. Fala marginalmente (quando muito) dos filmes, revelando uma tremenda falta de paixão pelo ofício que exercia, fazendo muitas vezes os filmes de qualquer maneira, amaldiçoando quando aceitou fazê-los. Fala um pouco sobre Clouzot, Godard, Deville, mas sem qualquer competência.

Descobri, no meio da leitura (que me tomou mais de um mês!), que essa é na verdade a PRIMEIRA parte de suas memórias, concluídas depois com um segundo volume. Não sabia disso, e creio que não saiu a tal conclusão no Brasil. Mas acho que não gostaria de ler, de qualquer modo. Iniciais BB cobre todo o período que me interessa na vida dela, do nascimento até sua precoce aposentadoria, aos trinta e oito anos. 

Enfim, livro decepcionante. Melhor mesmo ver os filmes — e não todos, já que essa falta de alegria em submeter-se a atuação é visível em muitos dos medíocres ou ruins trabalhos que ela aceitou fazer "por osmose"... 

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Esqueci de falar de um dos grandes temas do livro: a celebridade. O pavor da Brigitte pelos fotógrafos, jornalistas e repórteres invasores de sua privacidade, e os artifícios, tramoias e guerrilhas praticadas contra sua intimidade. Uma das histórias mais inacreditáveis ela conta no fim do livro: foi visitar uma amiga no hospital, com óculos escuros e xale (para despistar a imprensa, que a seguia sempre em todos os lugares, sem trégua), e no dia seguinte saiu no jornal uma notícia de que ela foi incógnita naquele hospital fazer uma intervenção estética no rosto. Ela ficou fula, se não desmentisse isso nunca a deixariam em paz com essa história, então acionou seu advogado e conseguiu o seguinte acordo: uma comissão de médicos e os advogados dela e do paparazzo verificariam numa cerimônia marcada se ela foi paciente de plástica, analisando, defronte um juiz, suas pálpebras, bochechas, costas das orelhas etc.

A vida absurda sem liberdade é uma coisa tocante, e a histeria mundial sobre ela não difere do que se apresenta com as celebridades de hoje.

P.S.: Fiz por essa época, com informações do livro, um Musas Eternas dedicado à Briggite.

E como um bônus, para lembrarmos de como ela já foi encantadora de verdade, este clipe.

4 comentários:

Vanessa disse...

Não sabia dessas coisas, estou passada.
Quando penso na BB lembro de "O Desprezo" e sua bunda.

Já dizia Tom Zé:

"A Brigitte Bardot está ficando velha,
envelheceu antes dos nossos sonhos.
Coitada da Brigitte Bardot,
que era uma moça bonita,
mas ela mesma não podia ser um sonho
para nunca envelhecer.
A Brigitte Bardot está se desmanchando
e os nossos sonhos querem pedir divórcio.
Pelo mundo inteiro
têm milhões e milhões de sonhos
que querem também pedir divórcio
e a Brigitte Bardot agora
está ficando triste e sozinha.
Será que algum rapaz de vinte anos
vai telefonar
na hora exata em que ela estiver
com vontade de se suicidar?"

Filipe Chamy disse...

"Quando penso na BB lembro de "O Desprezo" e sua bunda."

Minha bunda?? rs

Essa canção é bem bacana, já vi o Tons É cantando ao vivo.

Hunter disse...

Agora você sabe por que ninguém a aguentava muito tempo. Essa mulher era uma mala! Uma mala de parar o trânsito, mas uma mala assim mesmo...

Filipe Chamy disse...

Ela disfarça bem nos trabalhos da juventude, mas pelo visto sempre foi consideravelmente insuportável mesmo.