terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Deep Purple

O que faz a identidade de uma banda?

Ao contrário de artistas "solo", bandas nem sempre possuem uma evolução analisável: além das tendências de mercado e coisas habituais a qualquer músico, elas sempre lidam com trocas de integrantes e outros fatores que podem ou não descaracterizá-la, torná-la um simples "selo", um monte de gente tocando junto sob um nome qualquer, que não diz nada realmente.

Aí deparamos com Deep Purple, banda inglesa fundada em 1968 e que teve incríveis oito formações (ou "marks") diferentes. São elas:

MK I - Rod Evans (vocais), Nick Simper (baixo), Jon Lord (teclados), Ian Paice (bateria), Ritchie Blackmore (guitarra)
MK II - Ian Gillan (vocais), Roger Glover (baixo), Jon Lord, Ian Paice, Ritchie Blackmore
MK III - David Coverdale (vocais), Glenn Hughes (baixo, vocais), Jon Lord, Ian Paice, Ritchie Blackmore
MK IV - Tommy Bolin (vocais, guitarra), David Coverdale, Glenn Hughes, Jon Lord, Ian Paice, Ritchie Blackmore
MK V - Joe Lynn Turner (vocais), Roger Glover, Jon Lord, Ian Paice, Ritchie Blackmore
MK VI - Joe Satriani (guitarra), Ian Gillan, Roger Glover, Jon Lord, Ian Paice
MK VII - Steve Morse (guitarra), Ian Gillan, Roger Glover, Jon Lord, Ian Paice
MK VIII - Don Airey (teclados), Steve Morse, Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice

Essas formações eram alteradas conforme as conveniências da época. Umas duravam mais, outras duravam bem menos. O "marco" VI foi apenas durante uma turnê, não tendo lançado nenhum registro oficial, o V legou apenas um álbum de estúdio e o II repetiu-se em duas ocasiões. Com exceção do MK IV, todas as formações tiveram obrigatoriamente entre seus componentes Ritchie Blackmore (um dos fundadores da banda) ou Ian Gillan. Ian Paice é o único membro que esteve com a banda durante toda a sua existência.

As razões para tantas mudanças são muitas. Por exemplo, a formação inicial, mais voltada a um som de forte influência erudita (afinal, Jon Lord, então líder da banda, é músico de formação clássica), não durou tanto porque, sabemos, é normal uma banda de jovens ser lançada "no impulso", sem tanto planejamento, afinal; ao longo dos anos na estrada, a banda vai se modificando até alcançar o entrosamento perfeito entre seus membros e seus planos musicais. Curiosidade: Rod Evans, o primeiro vocal, tentou montar nos anos 80 um "falso Deep Purple", usando o nome da banda em várias apresentações que nada tinham a ver com o Purple "oficial" — aproveitando-se para isso da coincidência que foi a "extinção" do verdadeiro Deep Purple entre 1976 (MK IV, imediatamente após a morte prematura de Tommy Bolin) e 1984 (MK II-b, ou seja, o primeiro retorno da formação possivelmente mais clássica da trupe).

Os vaivéns de Blackmore e Gillan são explicáveis por uma simples mas constante "guerra de egos". Músicos alegadamente temperamentais, suas brigas motivaram esses frequentes remanejamentos, culminando com a definitiva saída de Blackmore em 1993, ano em que Joe Satriani serviu de "estepe" para a banda durante uma turnê em que não se havia ainda contratado efetivamente um novo guitarrista. Blackmore, durante a década de 70 e 80 e após partir de uma vez por todas, dedicou-se principalmente à sua genial banda Rainbow. Nos períodos em que não estiveram na banda seus outros integrantes também concluíram outros projetos: Ian Gillan Band, Whitesnake (que chegou a reunir Coverdale, Lord e Paice, quase um segundo Deep Purple) etc.

Mas o que mais impressiona é que, de alguma maneira, a identidade do Deep Purple (nome advindo desta música de Bing Crosby, velha favorita da avó de Blackmore) permaneceu íntegra durante todas essas décadas e formações. Dá para sentir que a funkeada fase Coverdale-Hughes não era em estrutura tão diferente das diversões de escala de Blackmore com Gillan e Glover, e os teclados de Jon Lord sempre flertaram com o erudito e com sua particular visão de velocidade e ritmo, perceptível também em seu último e brilhante álbum Beyond the notes, quando já não fazia mais parte da banda. Ian Paice também sempre deu aquele familiar tom de afeto a cada canção e apresentação, contribuindo com grande empenho e talento para a identidade Purple. A chegada de Steve Morse muda um pouco o cenário até então dominado por Blackmore, mas, encontrando seu rumo na banda, Morse também ficou inegavelmente com uma "cara" de Deep Purple, bastante diferente de seu trabalho com a Steve Morse Band.

É um fenômeno a se estudar. Mas o que interessa saber é da música, e nisso Deep Purple sempre errou muito pouco. Quase todos os seus discos são testemunhos de uma profunda vitalidade e empenho com a beleza e a expressão, a força da música, a potência do som. Apenas para ilustrar esse fenômeno curioso e fascinante, seguem cinco (ou seis) músicas das mais belas já compostas/gravadas pelo Purple, todas não apenas de álbuns diferentes, mas também... de formações diversas! Respectivamente, canções do MK I, MK II, MK III, MK IV e MK VII.

Nenhum comentário: