Se a animação é criar movimento a partir de desenhos parados, Norman McLaren é um de seus expoentes mais criativos: sua técnica mais famosa consistia em desenhar diretamente na película, fazendo assim uma movimentação bastante peculiar e característica.
Lembro de meu primeiro contato com Norman McLaren: foi em 2007, quando consegui, num sebo próximo à faculdade, um exemplar do querido Os filmes de minha vida, de François Truffaut. Mesmo já conhecendo Hawks, Lang, Renoir, Hitchcock e tantos outros cineastas, nesse livro tive meus primeiros reais contatos com Samuel Fuller, Sacha Guitry, Jacques Doillon... e Norman McLaren.
Apesar de ser um animador famosíssimo, na época eu ainda não o conhecia; e fiquei bem curioso com o texto de Truffaut, sobre um curta-metragem de cinco ou seis minutos estrelado por uma galinha desenhada direto na película do filme! Truffaut dizia que apesar da duração desses filmes, seu diretor era sem dúvida um dos maiores do mundo. Curioso, já que Truffaut foi sempre meu principal mentor na crítica cinematográfica, fui atrás do curta. Eu usava o emule na época, e deixava vários filmes em processo de "baixamento" enquanto estudava de manhã, longe de casa; ao chegar, estava tudo lá me aguardando. Lembro da alegria que era ver três ou quatro filmes curtinhos de Norman McLaren por dia, com sua inventividade delirante, seu aspecto artesanal apaixonante, as possibilidades que eu via nesses curtas, o quanto aquilo tudo era novo e impressionante para mim.
Aos poucos fui vendo tudo o que achava dele. Vendo, revendo, revendo novamente. Em 2008, falei dele num texto da Zingu!. McLaren virou um ídolo meu. Um exemplo de inovação, brilho, gênio. Baixava documentários, via entrevistas, procurava os curtas perdidos (ainda me faltam uns dez).
A empolgação não diminuiu com o passar do tempo. Synchromy, um dos curtas que posto abaixo, continua sendo uma das minhas animações favoritas, e um filme que faço questão de colocar no meu top 100 pessoal. Adoro as brincadeiras que ele faz com o som, a imagem, a duração espaço-temporal de uma nota, a exposição do tempo de um áudio.
Além desse filme (e de outros do tipo, como a série Lines), McLaren fez curtas como o referido por Truffaut (Hen hop), stop-motion (com desenhos/objetos/pessoas, como A chairy tale) e experimentos com música e metalinguagem cinematográfica (como a série Animated motion, em que explica princípios da dinâmica animada). Também fez cinema live action, como suas imprescindíveis excursões ao mundo do ballet. Por Neighbors, critica ácida (mas bem humorada) à guerra, ganhou o Oscar... de documentário curta-metragem! Incansável artista, o canadense dedicou sua vida à investigação das possibilidades da arte da animação, e reconhecer seus méritos não é apenas questão de justiça: é uma constatação evidente a qualquer pessoa que tenha o prazer de conhecer seus trabalhos. A seguir, alguns de seus filmes mais representativos:
2 comentários:
Nossa, não sabia essa do Oscar!
Genial :) ele realmente é demais!
Curiosamente, tanto ele quanto o "grande animador" anterior (Ward Kimball) ganharam o Oscar por curtas que dirigiram! E ele é sensacional mesmo!
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