
Uma delas eram os seriados que eu via aos montes, nos canais pagos da Warner e da Sony. Vi várias temporadas de Friends, Just shoot me!, Frasier, Becker, Everybody loves Raymond, Married... with children, Spin city etc. Como deu para perceber, adorava sitcoms, pouco ligava para os dramas ou esse tipo de série mais "interligada" que hoje abunda, com arcos narrativos que tomam muitos episódios e às vezes a série toda — não, o que eu queria era dessas séries "imediatas", que tanto faz como tanto fazia ver episódios pulados, soltos, fora da sequência e o que mais fosse. Mas claro que havia aí um paradoxo involuntário: para que procurar tanta liberdade, se eu religiosamente não perdia um momento dessas séries? Além de tudo elas eram reprisadas à exaustão...

A razão mais forte para eu gostar tanto dessa sitcom era a mesma que faz com que ainda hoje eu continue apaixonado por ela: Helen Hunt. Ou melhor, Jamie Buchman. O feliz encontro que juntou uma atriz magnífica com sua expressão mais perfeita. Costumo dizer que as melhores atuações que já vi em seriados televisivos são as de Helen Hunt neste Mad about you e a do colossal Peter Falk em Columbo. Jamie Buchman, que já descrevi como "a mulher da minha vida", me atrai por sua incrível sinceridade/naturalidade, uma voz de intensidade e força que faz com que ela pareça sempre possível e encantadora, companheira e cúmplice inteligente, real.
Mad about you centra-se em Jamie e seu marido, Paul, feito por um dos criadores da série, Paul Reiser (o outro criador é Danny Jacobson). Se é verdade que por vezes o texto de Paul parece muito "engraçadinho", quase um deslocado 'stand up', seu jeito descontraído e seu bom timing cômico relevam qualquer problema desse tipo. E não se pode falar mal de quem criou essa série, fez sua música-tema e compôs junto a Helen Hunt o casal mais simpático da televisão.

Fixos mesmo apenas Paul e Jamie Buchman. E isso é ótimo e muito adequado. Aliás, sinto uma queda na qualidade do seriado quando as histórias "de marido e mulher" se transformam em histórias "de família". Quando resolvem ter um filho, quando de fato nasce uma menina (Mabel, única herdeira dos Buchmans) e a série perde essa gigantesca qualidade da crônica de um jovem casal, ficando um pouco mais convencional, apesar de ainda admirar pela vitalidade dos atores, a direção afinada, o texto com sua graça peculiar e sobretudo ainda por Helen Hunt, que nunca está menos que fascinante em cada um dos 164 episódios.

[Falando em Friends, pode-se dizer que Mad about you é um pouco sua sitcom-irmã. Lisa Kudrow tem um papel em ambas; na primeira, é uma das protagonistas; na segunda, que iniciou antes e em que faz apenas participações especiais, é... a irmã gêmea da personagem que faz na primeira! Um detalhe curioso, sendo que há um episódio de Friends em que Jamie e Fran aparecem no café dos amigos e confundem sua conhecida com a irmã dela. Esse tipo de conexão, é verdade, me divertia mais quando eu era mais novo; mas é bacana também para vermos como Mad about you estava no centro do que se fazia de popular nas sitcons da época, tendo também um episódio com a presença de Kramer, o célebre amigo de Jerry Seinfeld em sua autointitulada série.]
Alguns grandes momentos nunca sairão da minha cabeça, como o episódio em tempo real e só um take, em que Paul e Jamie sentam do lado de fora do quarto de sua filha, esperando a bebê pegar no sono; uma festa em que eles se dividem e cada um vive suas cenas independentemente do outro mas com ação simultânea e uma bela distorção do tempo e espaço; as participações de gente como Jerry Lewis, Nathan Lane, John Astin e Steve Buscemi; e, claro, o casal se conhecendo, Paul tomando a iniciativa, Jamie o levando para a festa da empresa. Coloco aí embaixo esse belíssimo encontro, de uma honestidade sentimental fabulosa, junto a uma das aberturas (algumas fotos e nomes de elenco iam sendo substituídos) e a cena final exibida em 1999. Após sete anos e um merecidíssimo Oscar no meio do caminho para Helen Hunt, a série se encerrava da maneira mais tocante possível, num episódio duplo dirigido pela própria intérprete de Jamie. Fechando assim uma pequena joia romântica que envelhece muito bem e continua sendo uma grande inspiração para mim.