domingo, 20 de maio de 2012

Maluquinho em quadrinhos

Todo mundo conhece o Menino Maluquinho. Mas ele é um daqueles casos de personagem mais famoso pelo merchandising que por outra coisa. Não que seus livros ou seus filmes e afins sejam pouco conhecidos, mas é o mesmo caso de Peanuts: conhece-se a figura (um garoto com uma panela na cabeça), mas sabe-se muito pouco da essência dos personagens. Assim como Mickey, Maluquinho é uma estampa conhecida, mas uma ínfima parte dos que reconhecem seu vulto conhece realmente a sua história, o que ele fez de importante.

O que pouca gente conhece realmente (pelo menos hoje) é como o Maluquinho é genial nos quadrinhos. Não em todos, que fique claro; em sua última aparição nas bancas, poucos anos atrás (a mesma que hoje se encontra nas livrarias em alguns álbuns com compilações encadernadas), a editora Globo, um punhado de artistas medianos e a praga do convencionalismo na narrativa de humor infantil tornaram o então Maluquinho "mano" (calças largas caindo) dessa fase um pálido arremedo do que já foi um dia.

Eu sempre achei o Maluquinho um dos melhores personagens dos quadrinhos brasileiros. Ele não tem o respaldo crítico que um Henfil e um Laerte (muito justamente) possuem, mas esbarramos na velha questão do preconceito com as coisas ditas infantis. O que não impede de constatarmos com tristeza como a insossa Mônica de Mauricio de Sousa, justamente um quadrinho (pelo menos hoje) pouquíssimo merecedor de atenção, conseguiu certa "blindagem" contra a depreciação galopante, sendo um quadrinho sempre homenageado e republicado, comentado, lembrado. E mais do que isso: respeitado, não ignorado.

Aí também temos a nossa velha chaga brasileira de não preservar nossa própria cultura. Ora vejamos: os quadrinhos do Maluquinho (nessa encarnação que comento hoje; houve outras, como dei a entender acima) foram de 1989 a 1994, totalizando setenta edições. E NUNCA foram republicados, salvo algumas histórias em uma série de quatro livros temáticos da Publifolha, e posteriormente quatro gibis fac-similados por uma editora independente chamada Terra, há coisa de dez anos. Hoje ainda é uma dificuldade extrema para conseguir encontrar esses gibis. Em São Paulo pelo menos há o consolo de a coleção completa estar disponível para consulta e/ou empréstimo no Centro Cultural da Vergueiro (fica a dica, pois comprar edição por edição em sebos virtuais é um trabalho de paciência e de garimpo, além de os preços nem sempre ajudarem).

Por que elogio tanto essa fase do Maluquinho? Se só pegarmos estes cinco ou seis exemplos que coloquei aqui para ilustrar, é possível entender um pouco da minha euforia (ou assim espero!). Primeiro, que traço expressivo e bonito! Claro que não foi Ziraldo quem fez cada história, era uma equipe que assinava em nome dele, como o que o Mauricio ainda faz hoje (o artista mais famoso que fazia o Maluquinho, inclusive assinando com seu nome em algumas ocasiões, era o Mig). O resultado é um quadrinho que evidentemente é cartunesco, mas não simplesmente "deformado" como os da turma da Mônica. Há toda uma linguagem visual, com a movimentação das personagens no espaço, gestos cômicos ou de expansão, expressões dos mais variados sentimentos, sempre tudo muito bem retratado.

Além disso, o texto é perfeito. São crianças, mas que agem com malícia mesmo sendo inocentes, fazem piadas, são engraçadas, não são em absoluto apenas marionetes vazias falando textos de efeito, engessados. É de uma naturalidade cortante, e é difícil encontrar no quadrinho infantil uma força de comunicação assim. Nos exemplos é possível ver como Maluquinho fala, pensa, como se comunica com seus amigos e como isso é desenvolvido e mostrado ao leitor. Notem nas tirinhas o fino humor e a genuína graça, trabalho que chega mesmo a encantar de tão bem feito.

Ainda há muito que se falar sobre o Maluquinho em quadrinhos. Mas nas páginas que eu pessoalmente selecionei e fotografei dá para se ter uma ideia bastante precisa da qualidade do material. E tudo isso é apenas da fase FINAL da revista, após dezenas de edições excelentes. No meio dos anos 90 Maluquinho voltou às bancas em um de seus últimos momentos de brilhantismo, com uma revista intitulada simplesmente REVISTA DO MENINO MALUQUINHO, com o nome escrito todo espremidinho. Fica registrado o meu apreço por esse magnífico personagem e a torcida para que todos os seus grandes momentos ainda sejam devidamente valorizados. Até o Pererê, que tem uma perna só, tem conseguido pulos mais altos em sua carreira nas HQ e vem mostrando serviço com certos relançamentos ambiciosos e estudos sobre sua importância para o quadrinho nacional. Já está mais do que na hora de ser a vez do panelinha.

14 comentários:

Lúcia disse...

Maluquinho tentando arranjar dinheiro pro presente pra mãe.. e no final ele compra uma fita e se embrulha de presente! <3 inspiração de vida.
li e reli tanto esses gibis que levava até bronca.

Filipe Chamy disse...

Eu não acredito nisso! Caramba, haha, você é meu clone feminino perdido, acho.

p. disse...

ai que massa, chams! eu fiquei morrendo de vontade de ler o maluquinho agora ;~

Filipe Chamy disse...

Que achou dessas páginas? Eu as acho geniais! Maluquinho muito ídolo.

"Moça de azul, dá um trocado pro ceguinho".

p. disse...

tem umas piadas que são muito sua cara... :D

Filipe Chamy disse...

Por isso disse que acho genial! rs

Seu Luiz disse...

Estou conhecendo este blog agora. Muito bacana! Sou super fã do Menino Maluquinho e gostei do seu texto. Tinha também um personagem muito legal chamado "O Menino Mais Bonito do Mundo" que tinha histórias nos gibis do Menino Maluquinho da Abril e que eu nunca mais vi em lugar nenhum. Bem que poderia sair um álbum dele pela Globo.

Filipe Chamy disse...

Opa! Obrigado pelo elogio!

Esse menino era o Adão! Ele vivia num paraíso cheio de bichinhos irônicos e ocasionalmente falava com Deus. Muito bacana mesmo, ele saiu em dezenas de gibis do Maluquinho (sobretudo na fase inicial da revista). Vale um post no futuro, e realmente ele é mais subestimado ainda que o próprio Maluquinho. Está na hora de (mais) uma revisão crítica da obra do Ziraldo...

Anônimo disse...

Só agora vi essa postagem. Muito boa. Sou fã não apenas do Maluquinho, mas do Ziraldo.

Cato livros do Ziraldo em qualquer lugar. Era fã do Maluquinho e fui me tornando grande fã de praticamente todo seu trabalho de artista gráfico, em especial os cartuns.

Se houver interesse seu em conhecer mais trabalhos dele, um link com meus "levantamentos": http://kleitongoncalves.blogspot.com.br/2012/04/ziraldianas.html.

Abç!

Filipe Chamy disse...

Sou muito fã do Ziraldo também! E claro que ele aparecerá futuramente aqui ainda, com Pererê, Jeremias, Supermãe, seus livros infantis, seus cartuns eróticos... Super artista, sem dúvida.

Aliás, preciso atualizar este post com uma conquista que muito me satisfez: um desenho do Maluquinho feito pelo Ziraldo para mim! A coisa mais linda possível, devidamente "enquadrado" por mim. :)

E eu já havia visto algumas postagens suas sobre o Ziraldo, claro que farei a devida "propaganda" tão logo escreve sobre outras coisas dele! Merece, sem dúvida.

Anônimo disse...

"seus livros infantis"

É um lado do Ziraldo que ainda não explorei bem...

Filipe Chamy disse...

Então conserte isso o quanto antes!

Anônimo disse...

Legal a postagem, cheia de observações interessantes. Tenho alguns gibis do Menino Maluquinho e aos poucos estou postando as capas no meu blog. Gostava muito das historinhas, muito originais e bem elaboradas, com um toque de malícia inocente.

Filipe Chamy disse...

Oi, Fernanda (desculpe a demora)!

Obrigado pelos comentários! Eu vou é já checar o seu blog, que quero muito rever as capas (não possuo todos os números, apesar de já ter lido toda a coleção), que saudade dessa fase do Maluquinho... É bem como você disse: originalidade com malícia e inocência, mas sempre muito bem elaborado e desenvolvido!