quinta-feira, 24 de maio de 2012

Gallsbourg

Escusado reforçar a importância de Serge Gainsbourg para a música popular (não só francesa) do século XX. Mas, como o homem pariu dezenas de discos e centenas de canções, fica um pouco difícil separar algo nesse bolo de obras ímpares e entender tantas tendências. Uma boa maneira é dividir certas coisas por suas intérpretes, o que reflete sua inspiração no momento: hoje não é a vez de Brigitte Bardot, Jane Birkin ou Juliette Gréco, mas FRANCE GALL.

A primeira vez que ouvi France Gall, foi, curiosamente, em uma fase bem distante desses anos de mocidade: no delicioso "Amores parisienses" (On connaît la chanson), de Alain Resnais, France Gall era uma das cantoras do primoroso set list, com uma canção intitulada Résiste. Apenas tempos depois fui procurar mais coisas dela, e não recomendo a ninguém essa demora.

Mesmo não esquecida, hoje France Gall está aposentada e longe dos holofotes, decisão tomada após certos dramas pessoais em sua vida; mas na década de 60 a jovem francesa era um fenômeno: sua vozinha estridente de adolescente era um charme sempre requisitado em programas televisivos, rádios e eventos culturais e musicais em gerais. Sua figura ajudava: era uma bela moça com um ar de genuína inocência (o que, parece, era realmente verdade). Hoje já estamos acostumados à erotização das lolitas, mas ainda é de se notar como sempre a colocavam para cantar em trajes colegiais, as pernas nuas, sainhas e uniformes fetichistas. Vários desses "footages" estão preservados, o que demonstra como exploravam não apenas o talento vocal de France Gall mas o sensualismo involuntário de seu delicado corpo.

Em meados da referida década, France Gall firmou uma insólita parceria com Gainsbourg (como pode ser visto na bela cinebiografia de Gainsbourg dirigida por Joann Sfar). Talvez seja difícil perceber a princípio o quanto eles eram contrastantes: ela, menininha virginal, bobinha e tímida; ele, conquistador, desbocado e malicioso. O fato é que essa dupla cunhou algumas das mais memoráveis canções francesas das últimas décadas, sendo que ainda hoje elas impressionam pelo vigor que as tornam muito, mas muito superiores à média que France Gall costumava produzir. A despeito de toda a polêmica gerada por "Les sucettes" (canção em que Gainsbourg introduziu deliberadamente duplos sentidos para parecer que a moça cantava nos versos experiências de sexo oral!), qualquer música com esse selo de parceria vale seu peso em ouro. Seguem algumas dessas parcerias, não para efeitos de prova, mas sim como puro deleite para os ouvidos.









4 comentários:

Lúcia disse...

Now your ears are ringing
The birds have stopped their singing
Everything is turning grey
No candy in your till
No cutie left to thrill
You're alone on a tuesday

Filipe Chamy disse...

A música que me fez procurar DE VERDADE France Gall! :)

Só que foi a versão em francês mesmo, no fim de "Death proof".

Anônimo disse...

mas não é a April March no Death Proof?
April March gravou tanto em inglês quando em francês a Chick Rabbit

Filipe Chamy disse...

Sim, a April March. Aí eu fui pesquisar sobre a música e "esbarrei" na versão original (que acho bem mais legal). :)