segunda-feira, 28 de maio de 2012

Pedras rolando

A fama nem sempre é suficiente.

Beto Guedes é conhecido, mas ainda não foi devidamente apreciado. Já em seu primeiro disco, intitulado incrivelmente "A página do relâmpago elétrico", temos um compositor consciente do valor das linhas melódicas dos (vários) instrumentos e gêneros que o álbum abrange, indo do mais singelo choro mineiro — de seu pai Godofredo Guedes, brilhante autor de obras resgatadas recentemente também pelo filho de Beto, Gabriel (o garotinho que vai em direção ao pai na terceira capa aqui exposta) — a um tipo bastante peculiar de rock progressivo. Força expressiva incomum, o disco é um petardo, e não seria o único trabalho memorável do jovem de Montes Claros.

Ao longo de sua carreira, Beto Guedes fez parcerias com seus amigos do Clube da Esquina (Milton Nascimento, Lô Borges, entre outros) e com gente como Caetano Veloso e Zizi Possi, mas sua carreira é bastante única e pessoal. Apostando desde o começo em uma valorização de certas tendências instrumentais, é comum acharmos em seus discos, sobretudo os primeiros, faixas sem letras e vocais (ou em que a parte cantada é mínima), e nelas percebermos a variedade de estilos advindos de muitos estilos aparentemente inconciliáveis: baixo junto a piano, bandolim com guitarra elétrica, flauta simultânea a teclado eletrônico etc. E com um adendo: o próprio Beto é quem toca a maior parte disso tudo.

Apesar de ter vários clássicos embalando gerações há décadas (Amor de índio, Maria solidária, a eternizada por Elis Regina O medo de amar é o medo de ser livre), sua proposta mais autoral o afastou um pouco do palco que permite a artistas mais "mainstream" aparecerem em programas televisivos tradicionais, e a mídia convencional não dedica nunca muito espaço a quem faz arte pelo menos um pouco fora dos padrões. Resta o consolo de uma pequena discografia, praticamente impecável, com um incrível mostruário de composições inspiradas, que dão a quem as escuta a impressão de sentir a brisa tranquila de uma tarde de Minas passando bem ali na janela...









2 comentários:

Jeferson A. Pereira disse...

Eu ouvi muito nos anos 70.Gosto de Feira Moderna, Amor de Indio e O Sal da Terra.

Filipe Chamy disse...

Músicas bem marcantes mesmo, Jeferson. O final dos anos 70 e começo dos 80 foi a época mais importante da carreira dele.