domingo, 27 de maio de 2012

O mistério dos signos

Sou leitor dos gibis Disney há mais de quinze anos. À parte certos gibis comprados aleatoriamente na infância, posso dizer que comecei a lê-los "aprofundadamente" e com interesse real de colecionismo lá em meados do longínquo 1995, quando eu tinha oito anos. Nem sempre os comprei fielmente todos os meses; quando as asssinaturas foram extintas no começo dos anos 2000 e começou uma onda de gibis finíssimos, decepcionantes e repletos de repetecos (eu, que sempre comprei muita coisa em sebo, já tinha quase tudo), parei por um tempo.

Ano passado retomei a compra dos gibis regulares (pois os especiais nunca deixei de comprar) e de lá pra cá muita coisa foi lançada, um cenário cheio de falhas mas ainda assim muito melhor do que o que estava imperando quando debandei desiludido e me concentrei em Bonelli Comics e outros quadrinhos. Mas na verdade este texto não é sobre nada disso. É sobre uma minissérie Disney (ou história seriada) que finalmente consegui completar e li esta semana: "O mistério dos signos".

A Disney é historicamente conhecida por suas histórias curtas. De Carl Barks a Paul Murry, de Tony Strobl a Ivan Saidenberg, a virtual maior parte dos artistas do estúdio sempre se caracterizou por fazer histórias geralmente curtas, sem continuidade, fechadas. Ainda que Floyd Gottfredson tenha sido o pioneiro em fazer diferente, com longas e geniais tramas de aventura, ação e noir com o Mickey, e que por vezes tenhamos visto histórias mais longas como "A saga de Tio Patinhas" (de Don Rosa) e "O destino do Zé Carioca" (de Genival de Souza, Aluir Amâncio e José Wilson Magalhães), a tradição é mesmo tudo fazer tudo num espaço reduzido, sem pretensões de "arcos". O que vem paulatinamente sendo alterado.

Quem foge desse padrão não são os americanos, nem os franceses, nem os holandeses, nem os dinamarqueses e muito menos os brasileiros: são OS ITALIANOS! Eles que possuem essa capacidade de ser criativo a qualquer custo, e criam sagas e personagens e tramas malucas, com traços experimentais, com um dinamismo visual que foge totalmente aos padrões já convencionados por outros clássicos quadrinhos da casa. Eu quero falar de um grande momento na produção italiana: "O mistério dos signos", que aqui chegou como uma minissérie em três partes, iniciada em dezembro de 1990 e concluída em fevereiro de 1991.

Para quem acompanha um pouco a história dos quadrinhos Disney e sua repercussão na internet, "O mistério dos signos" é uma história que nunca saiu da memória dos leitores e uma das campeãs em pedidos para republicação. A Editora Abril andava anunciando que ia lançar uma edição de luxo com toda a minissérie republicada; eu, pessoalmente, no passo em que as coisas estão, não tenho interesse em adquiri-la se for simplesmente a reimpressão das aventuras, pois já as tenho em uma edição com brilhante papel e qualidade gráfica mais que satisfatória. Mas sem dúvida vinte anos é muito tempo de ausência e mais pessoas devem conhecer adequadamente essa excepcional saga.

Como o mote da história é recuperar doze peças inspiradas em símbolos zodiacais, espalhadas pelo mundo há gerações, conseguir finalmente a única parte da saga que me faltava (justamente a primeira!) foi algo que encarei romanticamente como uma missão parecida à dos amigos de papel: assim como a peça da história só produz efeito se todas as peças fossem remontadas, também minha leitura só poderia ser completada quando eu recuperasse todas as três partes da minissérie!

A trama em si se dá quando Mickey e Pateta (que completou felizes OITENTA anos anteontem!), mais uma vez viajando no tempo a pedido dos cientistas Zapotec e Marlin, descobrem uma tal roda zodiacal, com poderes de desbravar o futuro, e começam a correr mundo atrás dos herdeiros contemporâneos dos "amuletos". Após algumas passagens, deparam-se com Tio Patinhas e seus sobrinhos, e dividem as buscas entre a "turma dos patos" e a "turma dos ratos". Crossovers nos quadrinhos Disney NÃO são frequentes, e só me lembro de ver Patinhas e Mickey juntos em um desenho animado natalino de 1983... E com certeza nunca havia visto Mickey e Maga Patalójika cara a cara! O desenvolvimento das personagens (e como elas se relacionam), o peculiar humor, o sentido da aventura e os desenhos são primorosos do começo ao fim. E retomando um pouco o que disse no começo: após anos e anos lendo Disney, é difícil eu me surpreender com alguma coisa nesse universo; isso não impediu que "O mistério dos signos" me deixasse totalmente impressionado.

P.S.: Para quem achou estranha a baixa frequência dos crossovers em quadrinhos Disney, explico: Mickey e sua turma NÃO moram em Patópolis, como a Editora Abril erroneamente traduz há décadas. Por isso, ele, Donald, Tio Patinhas e afins não são vizinhos e mal se veem quando estão às voltas com suas aventuras...

6 comentários:

DH disse...

Onde as encontrou? Sebos?

Filipe Chamy disse...

Sebo, sim. Duas eu já tinha, comprei há anos. Esta semana achei a primeira parte, e creio que no mesmo sebo onde comprei as outras.

Enquanto não é republicado, resta aos curiosos duas opções: scans e sites que vendem gibis usados...

DH disse...

Scans eu tenho, devem estar em algum lugar perdido no HD.

Esperaremos o relançamento.

Filipe Chamy disse...

Nada confirmado ainda, Délio. Vamos ver.

sergiokid disse...

OMS é simplesmente fantástico Filipe, uma das maiores séries já escritas e desenhadas da Disney. Além disso, ainda me remete a uma época bem legal.

Parabéns pelo blog.

Filipe Chamy disse...

Obrigado, Sergio!

Pois é, remete pra mim também ao meu sempre presente colecionismo Disney, mas na época em que as ediçõs originalmente saíram eu era muito pequeno ainda e não as comprei... Ainda bem que os gibis são eternos! :)