quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ciência é ficção

Ao contrário de gente que só se entusiasma com coisas "épicas" (no sentido bem batido e questionável do termo), sou daqueles que acha que coisas por muitos consideradas inócuas podem ser bem mais fascinantes que espetáculos artificiais. Então eu gostaria de tentar fazer um pouco de justiça a um grande "mostrador" dessa beleza que está sempre aí para vermos e no entanto nunca a conseguimos enxergar: Jean Painlevé. Um grande registrador, que passou boa parte de seus quase noventa anos a perenizar em dezenas de momentos certas imagens de insuspeita perfeição.

Quando se fala em registro da vida submarina, só lembramos de Jacques Cousteau. E esquecemos deste homem, que retratou em curtas e médias metragens apaixonantes tudo que se pode falar de belo e impressionante dessas criaturas que estão todos os dias vivendo suas vidinhas molhadas. Ver seus filmes é sair encantado pela vida, pelas coisas que acontecem e não nos damos conta, é se embasbacar com as texturas, as cores e os movimentos pulsantes de seres que ignoramos ou fingimos desconhecer (ou, pior, desconhecemos realmente).

Na verdade, Jean Painlevé não filmou apenas seres aquáticos. De pombos a morcegos, esse visionário artista-cientista passeou pelos céus, pela cena política francesa/europeia/mundial e até filmou uma experimental cirurgia canina! Mas quando ele filmava medusas, polvos, cavalos-marinhos, pólipos, anêmonas, camarões e ouriços é que estava em seu máximo da expressão: são documentos tão seminais para o estudo e compreensão desses seres como certas obras de Norman McLaren e Carlos Saura o são para a música e o ballet.

Por mais que seja sempre um prazer ver essas criaturas tão distantes de nós (em constituição e em geografia) nos canais da televisão, nas páginas lindamente fotografadas da National Geographic e nos inúmeros documentários já feitos sobre elas, observar a obra de Jean Painlevé é sentir o gosto novo e saboroso de um novo mundo (por vezes) estranho e fortemente impressionante; uma comparação mais ou menos adequada se me afigurou agora: Jean Painlevé era um pouco o Winsor McCay do cinema documental, e nós somos seu Little Nemo percorrendo reinos e sonhos de encanto e desconhecido.





8 comentários:

DH disse...

Aproveitei a boa conexão (não a minha, obviamente) e vi o terceiro vídeo. Me fez relembrar algumas coisas. Por exemplo:

- na época do vestibular, a minha segunda opção era oceanografia (que obviamente nunca faria, pois o curso mais próximo ficava a estados de distância);
- quando criança, eu tinha um livro sobre baleias e golfinhos. Devo ter relido esse livro umas 9 vezes;
- filmes, desenhos e livros que se passavam no mar ou tinham algo a ver com o tema me fascinavam bastante. Ainda me fascinam;
- oceanografia NÃO é sobre baleias e golfinhos.

Filipe Chamy disse...

Também gosto muito de histórias submarinas. E não consigo não pensar nelas quando estou nadando numa piscina, por exemplo.

Qual é esse livro que você releu umas dez vezes (já aumentei)?

E o que achou do curta do Painlevé?

Filipe Chamy disse...

Aliás, você disse "no mar", não "sob o mar". Então acho que essas histórias incluem também navios, barcos, nadadores e afins, não? Também adoro essas coisas.

DH disse...

O nome do livro é justamente esse, "Baleias e golfinhos", haha. Olhei agora, ele é de 96 (!!!), ou seja, se li pouco depois de ter sido lançado, deve ter sido com uns 9 ou 10 anos de idade.

E é capaz de ter sido umas 10 vezes mesmo, haha.

DH disse...

Eu falei "no mar" querendo dizer isso mesmo, mas adoro "sob" também, rs.

Sobre o curta, muito bom, pena que ficou travando um pouco. Vamos ver se acho para baixar.

(E essas palavrinhas para digitar são uma chatice, heim.)

Filipe Chamy disse...

Quem é o autor desse livro?

E nem sabia que estava aparecendo isso de letrinhas... Como sou o dono do blog, não tenho que digitar nada. Será que dá pra tirar isso?

DH disse...

O autor é Marcos César de Oliveira Santos. Não é um livro de ficção, caso esteja achando isso.

Filipe Chamy disse...

Não achei.

Vou ficar de olho nesse livro!