segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Doug

Doug é uma série animada americana bastante popular no Brasil. O segredo para seu sucesso é sua extrema simplicidade: vidas simples, personagens simples. Nada simplório, contudo. Por trás da trivialidade cotidiana das tramas e acontecimentos, todo um mundo se descortina, um pouco o que se passa com Peanuts, onde a todo instante nos lembramos que esse quase minimalismo narrativo é sim uma poderosa fonte sugestiva: em Doug, as personagens vibram e se eternizam por sua perfeita constituição e desenvolvimento.

O personagem-título é um garoto barrigudinho e narigudo que se muda para uma cidade nova (Bluffington) e lá deverá fazer novos amigos e lidar com sua família e com suas pequenas crises de timidez, introspecção e criatividade. Conseguirá satisfatoriamente superar suas fobias e viver tranquilo e feliz? Ao longo dos 52 episódios produzidos pela Nickelodeon, essa tarefa deverá ser efetuada por nosso jovem amigo. E é um prazer acompanhar seus erros, êxitos e tentativas.

Há uma grande verdade em Doug, em seus pensamentos repletos de dúvida, seu inato inconformismo e sua doçura involuntária. No trato com o grande amigo Skeeter (Mosquito) Valentine, na sua involuntária rivalidade com o implicante Roger Klotz, nos seus medos envolvendo constrangimentos escolares, na sua curiosa relação com a "alternativa" irmã Judy, e, principalmente, na sua paixão secreta pela amiga Patti Mayonnaise seus modos e sua cabeça vão sendo revelados ao espectador, que, junto ao garoto, sofre, torce e se encanta com o dia a dia daquela localidade, com essa incompreensão própria da infância/começo da adolescência, com o caráter admirável de Doug e sua capacidade de imaginar problemas (ou solucioná-los). É agradável e inspirador vê-lo às voltas com suas aventuras, no colégio, em casa escrevendo seu diário, sonhando seus alter egos (Homem Codorna, Smash Adams etc.), brincando com o cachorro Costelinha (Porkchop) ou em qualquer outro ambiente, sempre importante para ele e, claro, um passo evolutivo em sua jornada.

Meus episódios favoritos são aqueles em que Doug está sozinho com Patti (como este), temendo desagradá-la, feliz por estar com ela por perto, receoso de declarar-se inoportunamente. A tensão entre os dois, o carinho evidente de ambos e as possibilidades do casal são uma combinação magnífica, ressaltada pela delicada animação da equipe de Jim Jinkins (criador do desenho), com suas cores calmas e expressiva movimentação de corpos e rostos. A naturalidade é tanta que por vezes parece que a animação nem existe, que aquilo tudo, com pessoas coloridas e caricaturadas, é uma filmagem de um acontecimento verídico. E não o é? A honestidade de Doug é que permite que essas criaturas nos fascinem e interessem. E, assim como Don Quijote não é apenas um herói de papel, Doug existe também fora de seu mundo desenhado.

A Disney adquiriu os direitos da série e fez dezenas de episódios de continuação, alterando fatos e personagens do universo "douguiano". Infelizmente isso amenizou a sinceridade do relato e transformou a coisa numa simples novelização de dramas adolescentes, ao gosto de tantos seriados teens da moda. Mas a série da Nickelodeon permanece como um testemunho de arte insuperável no retratar do nosso mundo numa época da vida em que não temos consciência da grandeza das coisas pequenas. E não importa se já fomos ameaçados por um valentão na aula ou se ficamos um dia inseguros de comer na casa de nosso alvo romântico, se precisamos fazer ballet ou ouvir as histórias do vizinho, e nem se estamos entediados numa viagem com os pais ou nervosos com um tipo de alimento — tudo isso poderia ocorrer conosco, e em tudo isso nos reconhecemos em Doug.

Vídeos: a genial abertura do programa, um clipe da célebre banda Os Beets e a canção que Doug compôs para Patti (mas ela não pode nunca saber que essa música existe!).

6 comentários:

Lúcia disse...

Uouô! Mingau matador!

O que eu mais me identificava era o fanatismo incondicional pelos the Beets :D

Saudades do Doug de mangas curtas e principalmente do costelinha!

Filipe Chamy disse...

KILLER TOFU! Demais mesmo, o amor deles pela banda é outro grande ponto da série!

Eu gosto tanto de Doug que vi, na ordem, cada episódio em português e em inglês também (com dublagem genial do Billy West, que faz tanto o Doug como o Roger)!

Lúcia disse...

outro ponto alto de Doug são os sons, não acha? adoro como em algumas aparições do Roger eles colocam uma guitarrinha distorcida no fundo :)

Filipe Chamy disse...

Sim! Inesquecível esse som do Roger, por exemplo. E a música do prefeito, o tema do shopping... Cada personagem/ambiente tem sua característica sonora, muito bom mesmo.

Coloquei uns vídeos, tinha esquecido disso. :)

Vanessa disse...

Ai, que post lindo. Que saudade.

Filipe Chamy disse...

Opa! Basta rever os episódios!