quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Andrício de Souza

O único lugar em que estudei a educação "oficial" (portanto, sem contar os cursos de língua e afins) por que sinto afeto é a escola onde fiquei desde o pré até o fim da oitava (hoje nona) série. Nesse colégio gostava de tudo, vivia tranquilo e satisfeito, lia muito, meu rendimento era bom e eu tinha vários bons amigos.

Claro que perdi esses amigos de vista, ou pelo menos a maior parte. Mas aí de repente acontecem com a gente essas coincidências de trajeto, e esbarrei numa rede social com um velho amigo: o André. Era um bom camarada, com que conversava bastante andando pelos pátios do colégio que hoje estão sendo destruídos/reformulados. Portanto, um amigo de lembrança. De coisas que não existem mais.

Mas o que acontece é que o André também não existe mais! Ele se sublimou atrás de um heterônimo: o Andrício. Andrício é esse cara que parece que a gente já conhece mas na verdade é alguém que a gente nunca viu. Como ele diz, faz tirinhas caseiras, quentinhas; digamos que é quase uma obra de artesanato, e claro que na era do império dos memes/menes — e humor "de Paint" no geral, com figuras repetidas à exaustão — isso é a se reparar. Seus personagens são desenhados sob perspectivas bem interessantes: os movimentos dos corpos, o posicionamento dos ângulos de inclinação, ele se expressa de uma maneira única e eficaz.

Também é a se reparar como o humor do Andrício é peculiar. Ele foge de alguns esquematismos que fazem a delícia dos acomodados tiristas contemporâneos: não explora os fáceis "vícios" políticos, não se rende ao direitismo barroco que faz da classe média uma caricatura grotesca, não zomba de quem já é segregado ou perseguido socialmente. Pelo contrário, ele ri desses clichês, desmonta o aspecto diabólico das celebridades pernósticas (como Luciano Huck) e ainda coloca o Paulo César Pereio como seu muso e alter ego ocasional.

Pereio, por sinal, compareceu ao lançamento de seu melhor e único livro, "As 100 primeiras e melhores tirinhas de Andrício de Souza". Eu também estava lá, com toda a ausência de traquejo que me caracteriza (eu acredito que cheguei constrangedoramente a chamá-lo de "Fabrício" em algum momento). Reencontrar um amigo por quem temos estima já é ótimo, mas vê-lo aos poucos crescendo e triunfando numa área que você adora (quadrinhos/tiras) é uma sensação bem curiosa e que afinal serve um pouco de incentivo: as coisas estão acontecendo, você também tem alguma chance de dar certo.

O site do Andrício é este (a apresentação, aliás, foi feita por mim, a convite dele). Vale a pena espiar e conferir um dos tiristas mais originais surgidos pelos últimos anos internet afora. Que não é surpresa para quem frequenta os Facebooks da vida: todo mundo já compartilhou uma tira do rapaz, porque é mesmo muito fácil sentir-se representado em algum momento por ele.

2 comentários:

Vanessa disse...

Excelente texto. A primeira tira que vi do Andrício foi "Se os escritores fossem médicos". Estou rindo até hoje. O traço dele me passa um ar de deboche que não vi em lugar nenhum, vida longa!

Filipe Chamy disse...

Sim, boa expressão: deboche! Ele é bom nisso.