quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Di Melo

Uma coisa que sempre me chama a atenção são os "artistas de obra única". Não me refiro àqueles cineastas que escreveram só um livro, ou à atriz que começou este ano e só fez um filme. Mas àquele pessoal que por alguma razão só produziu um trabalho em uma área e mesmo assim esse trabalho é tão bom e relevante que o artista é associado a esse campo mesmo sem ter feito mais nada ligado a isso. Eu penso em Harper Lee, que só escreveu um romance, em Baby Huey, que só lançou um álbum. E em Di Melo.

Trata-se de um caso extremamente curioso. Seu único disco foi lançado em 1975, produzido por Hermeto Pascoal. Di Melo não morreu jovem, pelo contrário, está ainda por aí em aparições esporádicas — quando nasceu? Quantos anos tem? —, as razões para esse álbum ser seu único trabalho lançado permanecem, até onde se sabe, desconhecidas. Foi feito um documentário sobre sua trajetória de vida/carreira, intitulado Di Melo - O imorrível. Mas até o filme é misterioso, inencontrável!

O disco, autointitulado, é uma maravilha. Oscila por mil gêneros, sonoridades, tendências, indo do rock progressivo ao tango, passando por bolero, seresta, soul, funk, samba, choro, ritmos latinos, coisas sui generis, tudo combinado, mexido, misturado, integrado. Não dá para definir bem, só se pode afirmar que é de uma originalidade e uma potência comoventes, o que só aumenta as dúvidas: por que só esse disco?

O problema não pode ter sido o "fracasso". É um álbum bem gostoso de ouvir, diria quase easy going, que, mesmo que não fizesse sucesso logo de primeira poderia fácil engatar uma carreira ascendente nas rádios, televisões e afins. Ademais, é difícil um artista esperar um estouro logo de cara. Não pode ter sido também a falta de material para outros lançamentos; segundo consta, Di Melo tem dezenas, centenas de músicas engavetadas.

Então poderíamos pensar no desconhecimento do artista. Mas alguns estrangeiros já se interessam pela música de Di Melo há vários anos, e aqui no Brasil Charles Gavin chegou a relançar seu disco por um selo comemorativo da Odeon. Ele não é exatamente a pessoa mais obscura e misantropa do mundo. Aliás, ele ocasionalmente faz shows! Há na internet vários registros dessas apresentações recentes.

O mistério Di Melo continua? Sim, ainda que um pouco diluído por iniciativas de resgate como a do documentário e a do site El Cabong, que fez uma das entrevistas mais reveladoras de certos bastidores da confecção desse trabalho incrível que veio à luz no meio da década de setenta. Quer dizer, aos poucos Di Melo deixa de ser lenda e vira homem, as coisas se encaixando, a biografia se completando. Mas e daí? A música dele é o que importa, e nisso ele é enorme sempre. Um único álbum, irretocável. O disco hoje é disputado a tapa em sites de leilões/especuladores virtuais, mas ainda bem que a internet deixa tudo isso ao alcance das pessoas. Então seguem algumas músicas para quem não conhece ou para quem sempre tem vontade de ouvi-las de novo e de novo e de novo novamente:

4 comentários:

Jô Abade disse...

DENTRE,ÁS COISAS PODÍVEIS IMPODIVEIS IMAGINÁVEIS INIMAGINAVEIS, BOAS, QUE PORVENTURA PUDERAM ACONTECER NESTES ÚLTIMOS TEMPOS... ESSA SE SOBRESSAI,ÁS DEMAIS INDISCUTÍVELMENTE, SEM SOMBRA DE DUVIDAS, DE DUVIDAR... DEVERASMENTE.ASSINO EMBAIXO SEM TITUBIAR, SEM VACILAR, SEM CORRER RISCOS DE QUALQUER DESATENÇÃO...AGRADECIDAMENTE DI MELO.

Jô Abade disse...

SÃO PALAVRAS DO PRÓPRIO.

INVASOR-RAP ALAGOANO disse...

REFERENCIA MUSICAL!
IMORRIVEL!!!

Filipe Chamy disse...

Que incrível Di Melo visitando e lendo meu blog! E que ótimo que ele curtiu o texto!