sábado, 20 de outubro de 2012

Boule e Bill

Boule e Bill é mais uma série franco-belga de sucesso que demorou para chegar aqui.

Na verdade, eles já haviam aparecido há vários anos no Brasil. Mas não se firmaram, e voltaram ao obscurantismo.

Há poucos meses, a situação mandou. A jovem e empolgada editora Nemo, que está lançando ou relançando em edições excelentes obras ausentes há anos de nossas livrarias (como trabalhos de Moebius e de Bilal), resolveu apostar nesse simpático título infantil. O primeiro volume, que na verdade foi o último lançado lá fora, chamou-se aqui Ao ataque!. Trata-se de um álbum bonito, no formato tradicional europeu (o mesmo de Asterix), mesmo número de páginas, mas com um preço acessível, bem abaixo do que se costuma cobrar por esses produtos. O álbum foi lançado com boa publicidade, aparecendo bastante na imprensa, e teve destaque no estande da editora na Bienal do Livro realizada em São Paulo este ano; inclusive era oferecido às pessoas um pôster de divulgação, com duas páginas de "amostra" e uma linda ilustração de Boule (o menino) e Bill (seu cachorro).

Agora em São Paulo está havendo a famosa feira de quadrinhos Fest Comix, e a Nemo não perdeu a oportunidade: lançou mais um álbum, Semente de Cocker. Com o mesmo capricho, o mesmo acabamento, o mesmo preço em conta. O papel é bom, a impressão é ótima, é um produto irretocável. Parece cedo para afirmar que o segundo álbum foi lançado na onda do sucesso do primeiro: pelo intervalo curto de tempo entre eles, talvez seja mais acertado apostar que os dois álbuns são testes de mercado. O esforço da Nemo é louvável e merece ser reconhecido.

Boule e Bill é um dos inúmeros quadrinhos cartunescos que a França e a Bélgica apresentam em profusão mas que aqui no Brasil são ridiculamente ignorados. Se Asterix e Tintin continuam sendo dois dos quadrinhos estrangeiros mais vendidos e populares por aqui, por que não apostar em outras séries na mesma linha? Assim como Boule e Bill, inúmeros outros personagens fazem sucesso lá fora e só agora andam aparecendo por aqui, lançado por editoras pequenas e/ou independentes, como a Nemo, que está começando, e a Vergara & Riba, que lançou intrepidamente os dois primeiros volumes de Titeuf — simplesmente o personagem mais vendido na França, e que aqui é/era totalmente desconhecido e ignorado. Essa lógica de só lançar material "indie" americano, praticada por editoras como a Companhia das Letras, é incompreensível. Evidentemente Daniel Clowes e amigos merecem seu espaço aqui, mas por que essa resistência absurda a títulos franco-belgas?

Boule e Bill é encantador. O que mais me chama a atenção são os desenhos, simplesmente lindíssimos. O contorno, as sombras, as proporções, os movimentos, os gestos e as cores, tudo de embasbacar. A série foi criada em 1959 por Jean Roba (falecido em 2006), e atualmente é continuada por seu assistente Laurent Verront. Cada página do álbum possui uma gag, e em cada uma delas conhecemos um pouco dos dois protagonistas, dos pais de Boule, da tartaruga Caroline (apaixonada por Bill) e de outros vultos divertidos e simpáticos. É uma série engraçada e alegre, ideal para crianças mas não só. Fica a torcida para que a Nemo consiga seguir adiante com esses lançamentos incríveis, e que o mercado/leitor brasileiro se abra para sair da mesmice a que está acostumado.

P.S.: A popularidade de Boule e Bill é tão incontestável que está sendo feito um filme live action inspirado nos quadrinhos, segundo consta. A estrear ano que vem.

10 comentários:

Anônimo disse...

Estava eu, divulgando uma atualização do meu blog nas redes socais quando me deparo com um link pra cá em um dos grupos relacionados do Facebook.

Para minha surpresa, esse artigo excelente é de um amigo da internet (ao menos, "eu" considero amigo, não posso ler a mente das pessoas).

Parabéns pela postagem, parabéns pelo site! Espero que tenha uma longa vida porque agora você já sabe como é meio dificultoso (mas também prazeroso) mantém um site assim sempre atualizado.

Desejo tudo bom!

Deus te abençoe hoje e sempre!

Maria passa na frente!

Abraços. Fabiano Caldeira.

Filipe Chamy disse...

Que bom que você gostou, Fabiano! Procure essa série, ela vale a pena.

Quanto ao blog, vou levando. Torcendo para que me depare com mais elogios como o seu.

Anônimo disse...

Tem que ter uma certa paixão para manter um site como esse, um blog.

Torço por você! Potencial já vi que tem!

Vida longa ao espaço!

Abraços. Fabiano Caldeira.

Filipe Chamy disse...

Obrigado, Fabiano! Eu sempre preciso desse tipo de incentivo para querer continuar.

Lúcia disse...

!!! Amo boule et bill! Marcou minha infância :)

Filipe Chamy disse...

Puxa, leu importado?

Eu, cavalo velho, só fui conhecê-los este ano...

(E gostei tanto que o pôster que citei já está na porta "de dentro" de um armário do meu quarto).

Lúcia disse...

É, rolam alguns álbuns em francês lá em casa, fora as edições da spirou né :)
muito bom mesmo!

Filipe Chamy disse...

Recomenda algum álbum/alguma fase em especial?

Sobre o francês, no primeiro álbum que a Nemo lançou tem uma gag sobre o Natal, e o revisor/tradutor deixou passar um "Père Noël" na lista de presentes. :)

Lúcia disse...

Hmmm fase específica? Acho que não tenho não, acho até que ele se manteve bem uniforme ao longo do tempo, mas posso estar enganada.

De qualquer jeito fico muito feliz que esteja sendo lançado por aqui! Me sinto muito bizarra tendo todos esses ícones de infância que quase ninguém (por aqui) conhece. Outro exemplo é o Benoît Brisefer, do Peyo, que já mencionei aqui. Super recomendo! Esse é realmente ótimo!

Filipe Chamy disse...

Pois é, essas coisas simplesmente não aparecem aqui! Do Peyo mal e mal tem um Schtroumpfs por aí.

Mas eu vou atrás de todas essas coisas, vou ver se acho edições francesas perdidas nos sebos da vida. :)