segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mad about you

Mad about you foi um dos seriados que eu via na adolescência, época em que, apenas com obrigações escolares e bem mais livre na cabeça e no tempo, tive tempo para perder muito tempo com mil coisas que hoje sacrificaria sem nenhum sacrifício.

Uma delas eram os seriados que eu via aos montes, nos canais pagos da Warner e da Sony. Vi várias temporadas de Friends, Just shoot me!, Frasier, Becker, Everybody loves Raymond, Married... with children, Spin city etc. Como deu para perceber, adorava sitcoms, pouco ligava para os dramas ou esse tipo de série mais "interligada" que hoje abunda, com arcos narrativos que tomam muitos episódios e às vezes a série toda — não, o que eu queria era dessas séries "imediatas", que tanto faz como tanto fazia ver episódios pulados, soltos, fora da sequência e o que mais fosse. Mas claro que havia aí um paradoxo involuntário: para que procurar tanta liberdade, se eu religiosamente não perdia um momento dessas séries? Além de tudo elas eram reprisadas à exaustão...

Mas a minha favorita sempre foi Mad about you. Enquanto a maior parte dos seriados eu via como quem assiste a algo dispensável, que pode ser descartado, Mad about you era outra coisa: era importante, necessário, era algo que me dizia respeito, eu me importava com aquilo e com aquelas pessoas.

A razão mais forte para eu gostar tanto dessa sitcom era a mesma que faz com que ainda hoje eu continue apaixonado por ela: Helen Hunt. Ou melhor, Jamie Buchman. O feliz encontro que juntou uma atriz magnífica com sua expressão mais perfeita. Costumo dizer que as melhores atuações que já vi em seriados televisivos são as de Helen Hunt neste Mad about you e a do colossal Peter Falk em Columbo. Jamie Buchman, que já descrevi como "a mulher da minha vida", me atrai por sua incrível sinceridade/naturalidade, uma voz de intensidade e força que faz com que ela pareça sempre possível e encantadora, companheira e cúmplice inteligente, real.

Mad about you centra-se em Jamie e seu marido, Paul, feito por um dos criadores da série, Paul Reiser (o outro criador é Danny Jacobson). Se é verdade que por vezes o texto de Paul parece muito "engraçadinho", quase um deslocado 'stand up', seu jeito descontraído e seu bom timing cômico relevam qualquer problema desse tipo. E não se pode falar mal de quem criou essa série, fez sua música-tema e compôs junto a Helen Hunt o casal mais simpático da televisão.

Paul e Jamie são os únicos personagens que seguem do começo ao fim da sitcom. A melhor amiga de Jamie (Fran), sua irmã (Lisa), os pais de Paul (Sylvia e Burt), seu primo (Ira) e muitos outros dão as caras com maior ou menor frequência, sumindo por uns tempos e reaparecendo em outros. Alguns personagens, como o "andador" de cachorros, a terapeuta do casal, o tio esquisito de Paul (feito por Mel Brooks) ou os pais de Jamie (interpretados por vários atores, com destaque para os míticos Carol Burnett, admirada por Chespirito, e Carroll O'Connor) também aparecem com certa regularidade, apesar de nunca serem exatamente fixos.

Fixos mesmo apenas Paul e Jamie Buchman. E isso é ótimo e muito adequado. Aliás, sinto uma queda na qualidade do seriado quando as histórias "de marido e mulher" se transformam em histórias "de família". Quando resolvem ter um filho, quando de fato nasce uma menina (Mabel, única herdeira dos Buchmans) e a série perde essa gigantesca qualidade da crônica de um jovem casal, ficando um pouco mais convencional, apesar de ainda admirar pela vitalidade dos atores, a direção afinada, o texto com sua graça peculiar e sobretudo ainda por Helen Hunt, que nunca está menos que fascinante em cada um dos 164 episódios.

A série fez sucesso por aqui, era constantemente reprisada e creio que chegou a passar na televisão aberta, evidentemente dublada (o que é um crime). Mas há anos é pouco referenciada, sempre perdendo pela superexposição da muito inferior Friends, que foi inteiramente lançada em DVD e agora sai em blu ray; Mad about you só saiu aqui numa edição especial comentada, com apenas quinze episódios selecionados. E nem nos EUA a série saiu de modo integral, o que é um grande absurdo e menosprezo.

[Falando em Friends, pode-se dizer que Mad about you é um pouco sua sitcom-irmã. Lisa Kudrow tem um papel em ambas; na primeira, é uma das protagonistas; na segunda, que iniciou antes e em que faz apenas participações especiais, é... a irmã gêmea da personagem que faz na primeira! Um detalhe curioso, sendo que há um episódio de Friends em que Jamie e Fran aparecem no café dos amigos e confundem sua conhecida com a irmã dela. Esse tipo de conexão, é verdade, me divertia mais quando eu era mais novo; mas é bacana também para vermos como Mad about you estava no centro do que se fazia de popular nas sitcons da época, tendo também um episódio com a presença de Kramer, o célebre amigo de Jerry Seinfeld em sua autointitulada série.]

Alguns grandes momentos nunca sairão da minha cabeça, como o episódio em tempo real e só um take, em que Paul e Jamie sentam do lado de fora do quarto de sua filha, esperando a bebê pegar no sono; uma festa em que eles se dividem e cada um vive suas cenas independentemente do outro mas com ação simultânea e uma bela distorção do tempo e espaço; as participações de gente como Jerry Lewis, Nathan Lane, John Astin e Steve Buscemi; e, claro, o casal se conhecendo, Paul tomando a iniciativa, Jamie o levando para a festa da empresa. Coloco aí embaixo esse belíssimo encontro, de uma honestidade sentimental fabulosa, junto a uma das aberturas (algumas fotos e nomes de elenco iam sendo substituídos) e a cena final exibida em 1999. Após sete anos e um merecidíssimo Oscar no meio do caminho para Helen Hunt, a série se encerrava da maneira mais tocante possível, num episódio duplo dirigido pela própria intérprete de Jamie. Fechando assim uma pequena joia romântica que envelhece muito bem e continua sendo uma grande inspiração para mim.

8 comentários:

Anônimo disse...

Eu via Mad About You na TV aberta. Procurava não perder nenhum episódio. Lá se vão uns 15 anos, acho.

Você falou em grandes momentos da série. Houve um que não saiu de minha cabeça: quando Jamie revela a Paul que o traiu, transando com um estranho num depósito de casacos, numa festa ou eventos (não recordo onde...). A partir daquela revelação, a vida "legal" daqueles dois mudou bastante, ao menos aos meus olhos.

Boa postagem!

Filipe Chamy disse...

Obrigado!

Eu lembro desse episódio, a Jamie disse que o traiu quando eles estavam naquela fase de começar a morar juntos, ainda não estavam "firmes" mesmo. Foi bem dramático. Pior só aquela vez que a Jamie beijou o chefe e o Paul bebeu com uma estranha... Lembra dessa? Foi o final de uma temporada, e é até desagradável ver, clima muito ruim.

Anônimo disse...

Não recordo desses momentos que vc citou. Posso até ter visto, mas, como falei acima, faz anos que não vejo Mad About You e são poucos os momentos que, realmente, ficaram bem registrados em minha memória! Mas essa é uma série que eu gostaria de rever, se tivesse tempo (coisa cada vez mais rara!).

Filipe Chamy disse...

É difícil arranjar mesmo tempo para ver séries. Mas quando se começa, não dá para parar. Ainda mais essas com episódios de 20 minutos, dá para reservar uma horinha todo dia e ver uns três de uma vez...

Anônimo disse...

Houve um tempo em que eu gostava de ver esses seriados descompromissados. Achava legal porque tornava-se algo rotineiro e, por isso, sentia que era algo importante na minha vida.

Eu não vi esse seriado, mas estou com os cabelos brancos de saber como ele foi bom, maravilhoso etc. E agora, vejam só! Conheci um fã, um grande fã dessa produção.

A vida é mesmo surpreendente.

Abraços. Fabiano Caldeira.

Filipe Chamy disse...

Tem que ver, Fabiano!

Camila disse...

Eu amo essa série. Eu vejo isso todo dia na televisão. Eu gosto de Helen Hunt e seus cabelos descoloridos. ela é atriz muito boa. beijos

Filipe Chamy disse...

Que jabá estranho, Camila. rs